(Equipe GEBIOMET) – Os sistemas integrados de produção agropecuária (SIPA) têm evidenciado resultados bem interessantes para os bovinos criados a pasto. Todavia surge uma pergunta: como seria este sistema para as ovelhas? Será que dá certo?

Uma das modalidades do SIPA, o sistema silvipastoril, é um sistema de criação sustentável de animais a pasto, muito promissor para a ovinocultura quando se considera o conforto térmico e o bem-estar dos animais. Quando mantidos a pasto aberto, ovelhas e cordeiros ficam expostos às condições ambientais desafiadoras, que podem levar à redução da produtividade desses animais, alterando sua regulação fisiológica e comportamentos. A partir disso, foram realizados estudos pelo GEBIOMET, com o intuito de investigar a influência do sistema de criação no comportamento e na fisiologia de cordeiros e ovelhas. Os resultados foram publicados dois trabalhos intitulados “Physiological responses of Santa Inês x Dorper ewes and lambs to thermal environment of silvopasture and open pasture systems", publicado na Small Ruminant Research (Elsevier) (clique aqui para acessar o artigo) e “Postpartum behavioural response of Santa inês x dorper ewes and lambs in a silvopastoral system”, também publicado na Small Ruminant Research (Elsevier) (clique aqui para acessar o artigo), sob a orientação do Prof. Frederico e da Profª Flávia Barros (UTFPR). Os trabalhos foram redigidos pela Médica Veterinária Julia Dada (MSc. em Zootecnia, e atual Doutoranda pelo PPZ UNIOESTE/UTFPR) e o Engenheiro de Bioprocessos e Biotecnologia, Matheus Luquirini (Doutorando na UNESP - Botucatu), alunos integrantes do grupo, juntamente com a coautoria da Prof.ª Maria Nunes-Zotti (UDESC) e da ex-aluna, a Zootecnista Pricilla Muniz. Vejamos a seguir quais os principais resultados destes trabalhos.

Microclima
Quanto aos dados ambientais dos experimentos, observamos que o microclima de ambos foi caracterizado como estressante aos animais apresentando um Índice de Temperatura e Umidade (THI ou ITU) médio de 77 para o silvipastoril (SP) e de 78 para o pasto aberto (OP), sendo que o THI entre 74 a 81 é considerado preocupante para ovinos. No entanto, o SP foi mais ameno, com uma diferença de 1,1 °C na temperatura média do ar em relação ao OP.

Termorregulação e fisiologia
Durante as horas mais quentes do dia, as ovelhas apresentaram sinais de estresse muito alto por calor no sistema OP, caracterizada por uma alta frequência respiratória (121–192 respirações/min). Já no período da manhã, apresentaram estresse moderado a severo (61–80 respirações/min). Em contraste, as ovelhas do SP passaram de estresse baixo pela manhã (40–60 respirações/min), para severo no período da tarde. Além disso, uma alta frequência cardíaca, quando o animal está em repouso, também é indicativo de estresse por calor. Nossos resultados indicaram que tanto ovelhas quanto cordeiros estavam com uma frequência cardíaca elevada nos dois ambientes (70–80 e 80–100 batimentos/min.).

Um dos métodos de reduzir a temperatura corporal, é a troca de calor pela pele com o ambiente. Nossos resultados mostraram que as ovelhas e cordeiros expostos ao sol tiveram uma maior temperatura superficial média, que é o valor da temperatura da superfície corporal, sinalizando que esses animais teriam maior dificuldade em regular sua temperatura corporal. Porém, quando aferimos a temperatura retal, tanto ovelhas (38,3 °C a 39,9 °C) quanto cordeiros (39,8 °C a 40,3 °C) dos dois ambientes, não apresentaram valores fora dos considerados normais (até 42 °C). Isto significa que os mecanismos termorregulatórios foram eficientes em manter a temperatura constante no interior do animal. Porém, os animais do sistema OP gastaram mais energia metabólica para manter a temperatura retal dentro da normalidade.

Comportamento
Ovelhas e cordeiros expostos ao sol direto estão sujeitos ao estresse têm maior probabilidade de ficar ofegantes durante várias horas, do que aqueles que permaneceram em um ambiente com sombra. Durante o período da manhã, curiosamente os animais apresentaram uma tendência a apresentarem os mesmos comportamentos tanto no pasto OP no SP, provavelmente devido a temperatura ser parecida nos dois ambientes nesse horário.
Determinados comportamentos demonstrados ao longo do dia, são indicativos de conforto térmico dos animais. Nossos estudos demonstraram que tanto ovelhas quanto cordeiros mantidos a pasto aberto, tiveram uma maior tendência a permanecerem em pé parados. Esses resultados estão de acordo com o microclima mais quente estressante do sistema OP.

Conclusão
Os SIPA's já tinham motivos de sobra para serem adotados na pecuária. Por meio desta pesquisa, os sistemas silvipastoris ganham destaque para ovelhas e cordeiros. O sombreamento arbóreo, desde que bem manejado e corretamente implantado, proporciona ambiente para que as ovelhas possam realizar trocas térmicas e aumentarem seu conforto térmico. Contudo, o destaque também é para os animais jovens. A sombra é necessária para que o cordeiro alcance seu nível ótimo de bem-estar e mantenha-se na sua curva de desenvolvimento adequado para as raças.

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